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quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

O canto ou recitação das Kalendas natalina



A Santa Missa da Noite de Natal pode ser precedida por um breve canto denominado Kalendas. Um texto de beleza litúrgica admirável que contém o anúncio do Natal do Senhor sob o aspecto cronológico, no qual são elencados os principais momentos históricos da Salvação. O Kalendas pode ser considerado então uma espécie de “Proclamação do Natal”, e apesar de apresentar algumas similaridades com o Exultet Pascal, não tem seu uso obrigatório na Liturgia como a Proclamação da Páscoa na Celebração da Vigília Pascal. A Kalendas constitui-se, portanto, um canto natalino de tradição litúrgica antiqüíssima, perfeita opção para se colocar em prática atualmente em nossas celebrações natalinas. 

Anteriormente, nas celebrações presididas pelo Papa João Paulo II, o Kalendas era cantado no início da Missa, logo após a saudação inicial, omitindo o ato penitencial. Atualmente, nas Missas de Natal celebradas por Bento XVI, a Kalendas está sendo entoado momentos antes da Celebração, o que também é oportuno, como ressalta Mons. Guido Marini, Mestres das Celebrações Litúrgicas do Sumo Pontífice: “o martirológio romano prevê o canto da Kalenda no dia da vigília de Natal ao término das Laudes ou de uma hora menor da Liturgia das Horas”. 

É recomendável que se a Kalendas for cantada ou recitada antes da Santa Missa, todo o espaço celebrativo já esteja preparado para a Celebração (até mesmo as velas do altar já devem estar acesas). A Kalendas natalina pode ser entoada com a Igreja a “meia luz”, proporcionando um ambiente oportuno para a apreciação deste belo texto litúrgico, sendo que após ser cantado ou recitado, as luzes da igreja se acendem aos poucos acompanhadas de um canto ou somente ao som do órgão. 


Abaixo, o texto, em português e em latim:

Em português: 

Vinte e Cinco de Dezembro. décima-nona lua.

Tendo transcorrido muitos séculos desde a criação do mundo, quando no princípio Deus tinha criado o céu e a terra e tinha feito o Homem à sua imagem; 

E muitos séculos de quando, depois do dilúvio, o Altíssimo tinha feito resplandecer o arco-íris, sinal da Aliança e da Paz; 

Vinte e um séculos depois da partida de Abraão, nosso pai na fé, de Ur dos Caldeus; 

Treze séculos depois da saída de Israel do Egito, sob a guia de Moisés; 

Cerca de mil anos depois da unção de David como rei de Israel; 

Na sexagésima quinta semana, segundo a profecia de Daniel; 

Na época da centésima nonagésima quarta Olimpíada; 

No ano setecentos e cinqüenta e dois da fundação da cidade de Roma; 

No quadragésimo segundo ano do Império de César Otaviano Augusto; 

Quando em todo o mundo reinava a paz, Jesus Cristo, Deus Eterno e Filho do Eterno Pai, querendo santificar o mundo com a sua vinda, tendo sido concebido por obra do Espírito Santo, tendo transcorrido nove meses, (aqui eleva-se o tom da voz, e todos se ajoelham até as seguintes palavras: feito homem) nasce em Belém da Judéia da Virgem Maria, feito homem: 

Natal de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo a natureza humana. 

R: Graças a Deus.


Em latim:

Octavo Kalendas Ianuarii. Luna undevicesima.

Innumeris transactis saeculis a creatione mundi, 

Quando in principio Deus creavit caelum et terram et hominem formavit ad imaginem suam; 

Per multis etiam saeculis, ex quo post diluvium Altissimus in nubibus arcum posuerat, signum foederis et pacis; 

A migratione Abrahae, patris nostri in fide, de Ur Chaldaeorum saeculo vigesimo primo; 

Ab egressu populi Israel de Ægypto, Moyse duce, saeculo decimo tertio; 

Ab unctione David in regem, anno circiter milesimo; 

Hebdomada sexagesima quinta, juxta Danielis prophetiam; 

Olympiade centesima nonagesima quarta; 

Ab Urbe condita anno septingentesimo quinquagesimo secundo; 

Anno imperii Caesaris Octaviani Augusti quadragesimo secundo; 

Toto Orbe in pace composito, Iesus Christus, aeternus Deus aeternique Patris Filius, mundum volens adventu suo piissimo consecrare, de Spiritu Sancto conceptus, novemque post conceptionem decursis mensibus (hic vox elevatur, et omnes genua flectunt), in Bethlehem Iudae nascitur ex Maria Virgine factus homo: 

Nativitas Domini Nostri Iesu Christi secundum carnem. 

R: Deo Gratias.

Kalendas no Vaticano

Partitura e Letra em Português


Áudio das Kalendas em Português

terça-feira, 17 de dezembro de 2013

As Antífonas do Ó

Imagem: Paróquia Nossa Senhora do Ó - Mosqueiro
As Antífonas do Ó são sete antífonas especiais, cantadas e/ou recitadas no Tempo do Advento (de 17 - 23 de dezembro - Semana que antecede a Festa do Natal de Nosso Senhor Jesus Cristo). As Antífonas do Ó são assim chamadas porque tem início com esse vocativo.

História:

As Antífonas do Ó foram compostas entre o século VII e o século VIII, sendo uma suma da cristologia, da antiga Igreja, um expressivo desejo de salvação, tanto de Israel no Antigo Testamento, como da Igreja no Novo Testamento. São orações curtas, dirigidas a Cristo, que resumem o espírito do Advento e do Natal. Expressam a admiração da Igreja diante do mistério de Deus feito Homem, buscando a compreensão cada vez mais profunda de seu mistério e a súplica final urgente: “Vem, não tardes mais!”. Todas as sete antífonas são súplicas a Cristo, em cada dia, invocado com um título diferente, um título messiânico tomado do Antigo Testamento. 

Uso na liturgia: 

A reforma litúrgica pós Concilio Vaticano II, ao introduzir o vernáculo na liturgia, não esqueceu os textos das Antífonas do Ó, veneráveis pela antiguidade e atribuídos por muitos ao Papa Gregório Magno. Ela os valorizou ainda mais sendo introduzidas como aclamação ao Evangelho da Santa Missa, além de conservá-los como antífonas do Magnificat da celebração das Vésperas. Cada antífona é composta de uma invocação, ligada a um símbolo do Messias, e de uma súplica, introduzida pelo verbo "vir".

Antífona do dia 17 de dezembro
Ó Sabedoria
que saístes da boca do altíssimo
atingindo de uma a outra extremidade
e tudo dispondo com força e suavidade:
Vinde ensinar-nos o caminho da prudência

Antífona do dia 18 de dezembro
Ó Adonai
guia da casa de Israel,
que aparecestes a Moises na chama do fogo
no meio da sarça ardente e lhe deste a lei no Sinai
Vinde resgatar-nos pelo poder do

Antífona do dia 19 de dezembro
Ó Raiz de Jessé
erguida como estandarte dos povos,
em cuja presença os reis se calarão
e a quem as nações invocarão,
Vinde libertar-nos; não tardeis jamais.

Antífona do dia 20 de dezembro
Ó Chave de Davi
o cetro da casa de Israel
que abris e ninguém fecha;
fechais e ninguém abre:
Vinde e libertai da prisão o cativo
assentado nas trevas e à sombra da morte.

Antífona do dia 21 de dezembro
Ó Oriente
esplendor da luz eterna e sol da justiça
Vinde e iluminai os que estão sentados
nas trevas e à sombra da morte.

Antífona do dia 22 de dezembro
Ó Rei das nações
e objeto de seus desejos,
pedra angular
que reunis em vós judeus e gentios:
Vinde e salvai o homem que do limo formastes

Antífona do dia 23 de dezembro
Ó Emanuel,
nosso rei e legislador,
esperança e salvador das nações,
Vinde salvarnos,
Senhor nosso Deus.

As antífonas em latim têm uma particularidade. Vejamos como começam elas em latim e os dias correspondentes:
17.12 - "O Sapientia" (Ó Sabedoria, que saístes da boca do Altíssimo)
18.12 - "O Adonai" (Ó meu Senhor, Guia da Casa de Israel)
19.12 - "O Radix" (Ó Raiz de Jessé)
20.12 - "O Clavis" (Ó Chave de David)
21.12 - "O Oriens" (Ó Sol nascente, esplendor da Luz Eterna)
22.12 - "O Rex gentium" (Ó Rei das Nações)
23.12 - "O Emmanuel" (Ó Deus connosco)

Se lermos as palavras, formadas pelas letras iniciais das palavras latinas, após a interjeição “O”, e lidas no sentido inverso, da última para a primeira, nos encontramos diante do acróstico – composição poética em que as letras iniciais dos versos, ou as do meio, ou as do final, formam uma frase ou uma palavra –, ou seja, “O ERO CRAS”. Ao traduzir o texto temos: “ERO” que significa “ontem” e “CRAS” que significa “amanhã”, formando assim a frase: “virei amanhã, serei amanhã, estarei amanhã”, refletindo desta forma a resposta do Messias à súplica dos fiéis.

Termino suplicando neste tempo propicio a oração: “Maranatha!” - Vem Senhor Jesus!

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

O uso da mitra e do báculo



O uso da Mitra:

A mitra, que será uma só na mesma ação litúrgica, simples ou ornamentada de acordo com a celebração, é habitualmente usada pelo Bispo:

1. Quando está sentado;
2. Quando faz a homilia;
3. Quando faz as saudações;
4. As alocuções e os avisos, a não ser que logo a seguir tenha de tirar a mitra; quando abençoa solenemente o povo; quando executa gestos sacramentais; quando vai às procissões.

O Bispo não usa a mitra:

1. Nas preces introdutórias
2. Nas orações; na Oração Universal
3. Na Oração Eucarística
4. Durante a leitura do Evange­lho
5. Nos hinos, quando estes são cantados de pé
6. Nas procissões em que se leva o Santíssimo Sacramento ou as relíquias da Santa Cruz do Senhor; diante do Santíssimo Sacramento exposto.

O Bispo pode prescindir da mitra e do báculo quando se desloca dum lugar para outro, se o espaço entre os dois for pequeno. Quanto ao uso da mitra na administração dos sacramentos e dos sacramentais, observe-se, além disso, o que adiante vai indicado nos respectivos lugares. (Cerimonial dos bispos, 60)

"O Bispo, ao chegar junto do altar, entrega o báculo ao ministro, depõe a mitra, e faz inclinação profunda ao altar, ao mesmo tempo que os diáconos e os outros ministros que o acompanham. Depois, sobe ao altar e beija-o, juntamente com os diáconos." (Cerimonial dos bispos, 131)

O uso do Báculo:

O Bispo usa o báculo, como sinal do seu múnus pastoral. Aliás, qualquer. Bispo que celebre solenemente o pode usar, com o consentimento do Bispo do lugar. Quando estiverem vários Bispos presentes na mesma celebração, só o Bispo que preside usa o báculo.

Com a parte recurvada voltada para o povo, ou seja, para frente, o Bispo usa habitualmente o báculo na procissão, para ouvir a leitura do Evangelho e fazer a homilia, para receber os votos, as promessas ou a profissão de fé; e finalmente para abençoar as pessoas, salvo se tiver de fazer a imposição das mãos. (Cerimonial dos bispos, 59)

Fonte: Movimento Litúrgico

sábado, 27 de agosto de 2011

Paramentos Litúrgicos III: O Cingulo

História
Depois de uma pausa para a nossa V Festividade de São Tarcísio, vamos dar continuidade a nossa série de matérias, vamos falar hoje um pouco sobre o cíngulo. O cingulo é uma veste de origem romana que se anexou aos paramentos litúrgicos e recebeu da tradição da Igreja um significado cristão. A primeira menção do cíngulo é uma carta do papa Celestino aos bispos de bispos de Viena e Narbone, na Gália no século V. A forma do cíngulo, desde a antiguidade até parte da Idade Média, era de uma estreita faixa com 6 ou 7 centímetros de largura. Era comumente de linho e, por vezes, bordado. O formato de cordão só se popularizou depois do século XV e hoje, é o dominante.


Forma e Cores
O cíngulo conta, na atualidade, de um cordão de cerca de 4 metros com dois pompons nas pontas com franjas. O cíngulo segue a cor do tempo, podendo ser branco, roxo, rosa, preto, vermelho, verde ou de cor festiva (dourado). Entretanto, como os demais paramentos usa-se o branco na falta da cor específica.


Em relação à ornamentação, a princípio era simples, posteriormente passou a constar de ricos brocados com ouro e pedras preciosas, principalmente durante a Idade Média. Na atualidade, recuperou parte de sua simplicidade inicial. O cíngulo possui decoração austera que pode constar de fios dourados ou prateados unidos à cor do cíngulo, sem pedras ou ornamentos maiores.

Quem usa e como se usa?


Usam o cíngulo todos os ministros de qualquer grau que portam a alva. Nesses se incluem os servidores do altar, acólitos instituídos, leitores instituídos e todos os clérigos. O cíngulo é posto sempre sobre a alva, amarrado a cintura. Se usa-se estola, esta fica, tradicionalmente, presa ao cíngulo. Não se usa cíngulo quando não se veste alva; assim, não se usa cíngulo com vestes corais, com batina e sobrepeliz, etc.

Oração e significado
Para se vestir o cíngulo, o rito extraordinário prevê que o sacerdote reze a seguinte fórmula:

"Praecinge me, Domine, cingulo puritatis, et exstingue in lumbis meis humorem libidinis; ut maneat in me virtus continentiae et castitatis."
"Cingi-me, Senhor, com o cíngulo da pureza, e extingui nos meus rins o fogo da paixão, para que resida em mim a virtude da continência e da castidade."
Tal uso, louvavelmente, pode manter-se na Missa de Paulo VI, uma vez que essa oração resume de maneira piedosa o significado deste paramento. O cíngulo lembra o antigo gesto de amarrar a veste à cintura para melhor trabalhar, daí a citação dos rins, região onde é amarrado para facilitar a labuta. Essa comparação fez o cíngulo se proliferar entre os monges.
Pode-se estabelecer uma relação ainda com a escritura do Antigo Testamento, na qual Deus ordena que os Hebreus comam a Páscoa cingidos (cíngulo) e com o manto (casula). Entretanto a relação que a tradição cristã mais bem aplicou ao cíngulo foi a sua relação com a castidade e a pureza de espírito, como ressalta a oração.

Fotos do uso do cíngulo
É um pouco trabalhoso encontrar imagens que mostrem o uso do cíngulo, uma vez que este paramento é usado sob a casula e, no caso dos bispos, sob a dalmática pontifical. As imagens mostradas são do uso com casula romana, apenas por uma questão de facilidade na visualização.

Sua Santidade durante a adoração da Santa Cruz na Sexta-feira Santa, uso do cíngulo vermelho, cor da celebração.

Ao início da celebração da Paixão, cíngulo vermelho novamente.

Ordenação Sacerdotal: os candidatos ao sacerdócio portando o cingulo sobre a alva.

O Padre Wiremberg no durante a Missa de encerramento da III Escola Arquidiocesana de Cerimoniários, usando o cingulo dourado (festivo). 

Acólitos-assististes, ambos usando alva e cíngulo.

Conclusão
Cíngulo é um paramento que se une a alva. Assim ele possui um significado que remete às atitudes daqueles que os portam. Segundo dizem as orações, aqueles que usa tal veste deve ser repleto de pureza, penitência e especial zelo para ser menos indigno de participar (Servidores do Altar, Acólitos, Diáconos, etc) ou celebrar (Presbíteros, Bispos, etc..) os santos mistérios.
Assim, é importante que se preserve seu uso, bem como sua oração, para que os ministros do altar não se esqueçam que sua vida espiritual se une diretamente ao que se celebra. Não se trata de dar atenção a detalhes de menor importância dentro da liturgia, trata-se de preservar a riqueza construida nos séculos passados e fazer que se mantenha presente os elementos e os significados que nos ajudam a entender melhor o Santo Sacrifício que é o centro da liturgia católica.

Fonte: Blog "Zelus domus tuae comedit me"
Revisão e atualização (fotos) : Blog "Ministrare et dare animam suam" 

domingo, 17 de julho de 2011

O poder atrativo da beleza litúrgica

Entra-se na Igreja por duas portas: a porta da inteligência e a porta da beleza. A porta estreita... é a da inteligência; ela está aberta para intelectuais e acadêmicos. A porta mais larga é a da beleza. Henri Charlier disse, na mesma linha, que "é necessário perder a ilusão de que a verdade pode se comunicar frutuosamente sem aquele esplendor que é da mesma natureza que ela e que se chama beleza" (L'Art et la Pensee).

A Igreja, em seu insondável mistério como esposa de Cristo, o Kyrios da Glória, tem necessidade de uma epifania terrena (isto é, uma manifestação) acessível para todos: esta é a majestade de seus templos, o esplendor de sua liturgia e a doçura de seus cantos.

Pegue um grupo de turistas japoneses visitando a Catedral de Notre Dame em Paris. Eles olham para a altura dos vitrais, a harmonia das proporções. Suponha que num dado momento, ministros sagrados paramentados com capas de veludo bordadas entram em procissão para as Vésperas solenes. Os visitantes assistem em silêncio; estão extasiados: a beleza abriu-lhes as portas. Ora, a Summa Theologica de São Tomás de Aquino e Notre Dame em Paris são produtos da mesma era. Eles dizem a mesma coisa. Mas qual dos visitantes leu a Summa de São Tomás? O mesmo fenômeno é encontrado em todos os níveis. Os turistas que visitam a Acrópolis em Atenas são confrontados com uma civilização de beleza. Mas quem dentre eles pode entender Aristóteles?

E assim também é com a beleza da liturgia. Mas do que qualquer outra coisa, é ela que merece ser chamada de o esplendor da verdade. Ela abre tanto para o pequeno como para o grande os tesouros de sua magnificência: a beleza da salmodia, os cantos e textos sagrados, as velas, a harmonia de movimento e a dignidade ao carregar objetos. Com arte soberana a liturgia exerce uma verdadeira influência sedutora sobre as almas, tocando-as diretamente, antes mesmo de o espírito perceber a sua influência.


Dom Gerard Calvet, OSB - Four Benefits of the Liturgy

Tradução do inglês por Luís Augusto - membro da ARS

sábado, 16 de julho de 2011

Privilégios do Patriarcado de Lisboa


In illo tempore


Costumes ou reformados ou que caíram em desuso

* * *
Sempre foi comum que os Papas, de algum modo, demonstrassem particular atenção alguma Ordem, circunscrição eclesiástica, nação, templo ou personalidade concedendo alguma condecoração ou privilégio, temporária ou permanente. Citamos, por exemplo, a Rosa de Ouro: ornamento precioso em forma ou de uma única flor ou um de buquê de rosas, feito de ouro puro, abençoado pelo Papa e enviado a quem ou àquele que se quer homenagear ou expressar estima. Entre outros, a Basílica de São Pedro detém cinco rosas e a Basílica de Nossa Senhora Aparecida, no Brasil, duas rosas. O Papa Leão XXIII enviou uma à Princesa Isabel do Brasil em homenagem à assinatura do decreto de abolição da escravatura. Também há privilégios litúrgicos outorgados em ocasiões especiais: durante a discussão teológica sobre a proclamação do dogma da Imaculada Conceição da Virgem Maria, o Papa Pio IX concedeu que a Espanha, defensora do dogma e intitulada "imaculista", e suas colônias usassem o azul em seus paramentos na Solenidade do dia 08 dezembro e nas missas marianas aos sábados. Segundo alguns, o privilégio do uso da cor cerúlea também estende-se às Filipinas, à Áustria e à Bavária, à Arquidiocese de Los Angeles, à Arquidiocese de Saint Louis (EUA), aos carmelitas, aos beneditinos ingleses, ao Instituto Cristo Rei e Sacerdote e a alguns santuários marianos. Também falam de seu uso em Portugal, na Universidade de Coimbra, pelo mesmo motivo imaculista que marcou a Espanha. Note-se que o Brasil também foi colônia espanhola de 1580 a 1640, no período conhecido por União Ibérica, quando o rei Dom Sebastião morreu e, em meio à crise sucessória, Filipe II da Espanha ocupou o trono português.

É sobre alguns privilégios - alguns litúrgicos - concedidos ao Patriarcado de Lisboa que trataremos neste artigo.

Com informações da Wikipédia e do Catholic Forum

* * *

A Diocese de Lisboa, repleta de privilégios dados pelos Papas, foi ereta no século IV. Dizem que durante o período da invasão muçulmana, a cátedra esteve vacante ou, segundo outros, até mesmo supressa a partir do ano 716, com seu território perdido (anexado) para as dioceses de Coimbra, Lamego e Viseu; foi restabelecida em 1147. Em 10 novembro 1394, foi elevada à Arquidiocese. O Papa Clemente XI, em 1716, dividiu a Arquidiocese e sua Cidade Arquiepiscopal (Lisboa) em duas circunscrições, seguindo o eixo da Rua dos Fanqueiros: o Patriarcado de Lisboa Ocidental era sediado na Patriarcal Capela Régia, e o Arcebispo de Lisboa Oriental, na Antiga Sé. Após desentendimentos sobre os limites eclesiásticos, em 1740 o Papa Bento XIV reunificou as duas dioceses, excluindo o título de catedral da Antiga Sé e determinando como Santa Igreja Catedral de Lisboa a igreja de Santa Maria, que já era intitulada "Patriarcal". Portanto, desde sua ereção canônica em 1716, o Patriarcado já goza de um privilégio, o primeiro:

1. O patriarca-arcebispo de Lisboa, assim como o Patriarca de Veneza, por direito ex officio, é criado cardeal no primeiro consistório após sua nomeação canônica para a sede lisboeta.

Com a designação desta dignidade patriarcal, o Arcebispo de Lisboa ultrapassa em honorificência o Arcebispo de Braga, conhecido por Primaz das Espanhas, e, até 1716, o mais elevado clérigo português. O Arcebispo de Toledo intitula-se como Primaz da Espanha.

Ainda que por determinação da Bula "Salvatoris nostri Mater", que reunificou as duas dioceses, o Cabido tenha sido extinto, antes, ele gozava do seguinte direito:

Cônegos mitrados do Cabido de Cracóvia

2. Àqueles cônegos (e outras dignidades) que tinham o uso de mitra e insígnias pontificais [deduz-se que o Cabido de Lisboa era privilegiado com o uso de mitra, como acontece com poucos no mundo], eram privilegiados com a posse de oratório particular e altar portátil, por todo o país. Como foi dito, poucos Capítulos de Cônegos no mundo têm o privilégio de serem mitrados. Alguns falam dos de Compostela, Praga e Cracóvia.

Ademais, com o passar do tempo, foi dado ao Patriarca de Lisboa o privilégio de usar insígnias e paramentos do Romano Pontífice, concessão não vista em nenhum dos outros Patriarcados latinos. Desenvolveremos o elenco dos privilégios em ordem crescente, atentos à importância de cada item:

Papa Pio XII usando o fano sob o pálio

O fano, segundo o antigo Pontifical, é um paramento usado nas missas pontificais pelo Papa, sobre a casula e sob o pálio; é uma espécie de pequena capa de ombros, de dimensões menores do que a mozzeta, de seda branca com listras douradas e avivada de vermelho, com uma abertura no centro para passar a cabeça. Depois do século XV, o fano passou a ter forma quadrada. Tem, em uma de suas faces, uma cruz bordada a ouro.


O Papa João Paulo II o usou por algumas vezes.

Fano do Patriarca de Lisboa

3. O uso do fano, sob o pálio arquiepiscopal, foi concedido ao Patriarca de Lisboa. Além do Cardeal Cerejeira, que governou Lisboa de 1929 a 1971 e que vemos na foto seguinte paramentado com o fano, mesmo após a reforma litúrgica (que não está diretamente ligada ao desuso do paramento) o Cardeal Ribeiro (1971-1998) ainda usou a peça litúrgica.

Cardeal Cerejeira sobe ao altar para Missa Pontifical
endossando "mitra-tiara", fano e falda

A falda, ainda segundo o antigo Pontifical, é uma veste litúrgica de uso exclusivo do Sumo Pontífice. Trata-se de uma longa túnica, de seda de cor clara (inicialmente era creme), usada sobre a batina (quando não era celebrada a Missa) e debaixo da alva, inclusive sobressaindo-se desta. Seu comprimento é tão longo que o Papa, para caminhar, deve ser auxiliado por dois monsenhores protonotários apostólicos da Cúria Romana (assim reza as rubricas da missa papal segundo o rito antigo), que devem suspender as bordas da referida veste. A falda, além de dar imponência à figura do Pontífice Romano, evitava que seus pés e suas pernas fossem avistados quando ele era transportado na sedia gestatoria.


Papa Pio X em Missa Pontifical


Bento XV e dois monsenhores protonotários apostólicos

4. Foi dado ao Patriarca lisboeta o direito ao uso da falda, como podemos ver adiante.

Cardeal Cerejeira,
caminhando debaixo do pálio processional e usando a falda

O Papa adotou, de altos dignitários do Oriente e da África, o uso dos flabelos que são grandes leques de penas de avestruz. Entre os antigos romanos, eles eram usados durante os sacrifícios e refeições que, agitados pelos flabelíferos, afastavam insetos e refrescavam o ambiente. A cerimonial pontifício prescreve o uso de 2 flabelos, que ladeiam a sedia gestatoria enquanto o Papa nela é transportado e permanecem próximos a ele. durante toda a cerimônia.

Missa da canonização do Papa Pio X em 1954
presidida pelo Papa Pio XII
notem que os flabelos permanecem erguidos ao lado do trono papal

5. O Papa cedeu no século XVIII ao Patriarca de Lisboa o uso dos flabelos. Na ocasião, o Bispo de Roma doou ao Patriarcado dois de seus quatro flabelos. O Patriarca nunca substituiu os flabelos doados, é provavelmente devido a isso que os flabelos papais, evoluídos ao longo dos anos e vistos nas fotos de Pio XII são diferentes dos do Patriarcado, que possuem penas mais longas. Vejam:


Procissão em Lisboa com o uso dos flabelos com idade de dois séculos
presente o Cardeal Belo, Patriarca de 1907 a 1929


As antigas Constituições Apostólicas já mencionam o uso pelos Papas da sedia gestatoria, consistindo-se em uma cadeira de braços, ricamente ornada, coberta de seda vermelha, com o brasão do Pontífice reinante, apoiada em um estrado, onde situam-se quatro anéis dourados, nos quais inserem-se duas varas por meio das quais doze homens carregam a sedia.


Papa Pio XII em procissão, ladeado pelos flabelos
sentado na sedia gestatoria carregada pelos palafreneiros ou sediários
e acompanhado, nas laterais, pela Guarda pontifícia



Papa Pio XII usando, entre outros,
a tiara, o fano, a falda e a sedia gestatoria

É imemorial o costume de carregar os vencedores de batalhas sobre seus escudos, como também é antiga a tradição de carregar triunfalmente os Papas depois de eleitos. Na Roma arcaica, os cônsules recém-eleitos eram carregados através da Cidade.


Os Papas foram carregados na sedia gestatoria por aproximadamente um milênio, quando deveriam se deslocar para algum lugar nas cerimônias litúrgicas. Nas procissões eucarísticas, era retirado o trono e um pequeno altar era fixado na sedia, permitindo que o Papa permanecesse em adoração ajoelhado em um genuflexório. O Papa João Paulo I ainda fez uso dela na missa do início de seu pontificado, unicamente com o propósito de não deixar de ser vistos pelos fiéis; abandonou-a logo em seguida.

6. O Papa concedeu no século XVIII ao Patriarca de Lisboa o uso da sedia gestatoria. O número de doze homens encarregados de transportar a sedia deu lugar ao número de oito para o Patriarca, que era ladeado pela Guarda de Honra. Semelhantemente aos flabelos da capital portuguesa, a sedia também nunca foi substituída, permanecendo sempre a original. O Cardeal era nela transportado para a Catedral e durante as procissões. O último Patriarca a usá-la foi o Cardeal Cerejeira.

Infelizmente, não há fotos de quando a sedia portuguesa foi usada em Lisboa. Dizem que, de modo até agora desconhecido, ela foi usada em 1982 quando da visita do Papa João Paulo II.



Papa Pio XII na sedia gestatoria
provavelmente em 1950 na cerimônia da proclamação
do dogma da Assunção da Virgem Maria

A tiara papal sempre despertou um fascínio e devido respeito aos amantes da Tradição. As três coroas que foram acrescentadas ao longo do tempo representavam a natureza do Pontífice Romano como "Solicitude universal, jurisdição eclesiástica universal e poder temporal". Este último, apesar da esmagadora diminuição dos Estados Pontifícios, ainda existe devido às propriedades físicas previstas nos Tratados de Latrão. Ela, segundo o antigo Pontifical, não substitui a mitra nas celebração da missa, mas é usada na procissão inicial e no fim e é posta sobre o altar quando não coroa a fronte do Papa; nas definições dogmáticas e na bênção Urbi et Orbi que o Papa concede no fim da missa de sua coroação, como também no Natal na Páscoa.

Papa Pio XII

Pode-se dizer que o direito ao uso da tiara pelo Patriarca de Lisboa foi o mais alto privilégio concedido a este pelo Papa. Isso é inaudito na História Eclesiástica. A concessão foi feita devido ao pedido insistente do rei João V de Portugal, que queria ver o Patriarcado ainda mais elevado honorificamente do que as outras dioceses. Pedidos como este não são tão raros: há tempos que o Núncio no Brasil goza do direito de ser criado cardeal 10 anos após o início de sua missão diplomática aqui. Isso foi concedido mediante o pedido do Império brasileiro.


Parece-nos que os Patriarcas lisboetas, por respeito ao Papa, nunca quiseram usar plenamente esse direito concedido. Mas, para não desagradar a Casa real portuguesa, conseguiram um meio de nem deixaram de usar o privilégio da tiara, mas também, usando-o, não igualarem-se em insígnias ao Bispo de Roma: mitra-tiara. No modelo tradicional da mitra, inseriram trêscirculus (linhas horizontais) em alusão às três coroas do triregnum papal. As fotos de que dispomos não mostram algo de que esperamos aliado à beleza das tiaras papais. Infelizmente.



A tiara, como conhecemos, continua a figurar no brasão do Patriarcado. E esse item, nessa circunstância, é o único em uso nos nossos dias...

Fonte: Direto da Sacristia (Erick Marçal)
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