sexta-feira, 6 de abril de 2012
"Consummatum est" Jo 19, 29
Vede-a em pé, em meio das trevas da noite, ainda banhada em sangue, no topo solitário da montanha. Que espetáculo oferecia o mundo naquela triste noite que se seguiu o deicídio!
Uma cruz de pau coberta de sangue, um cadáver dentro de um sepulcro, eis tudo o que restava de Jesus!
A fé de sua missão divina bruxuleava apenas, como débil luz prestes a extinguir-se, no coração de alguns discípulos tímidos, desalentados, descrentes; e, se não fora sua mãe, em cujo coração afogado em magoas nunca desmaiou a crença viva de sua divindade, pudera dizer-se que a Igreja de Jesus com mele expirara!
Satã, vendo este destroço da obra de Deus, acreditou no triunfo certo da sua, regozijou-se “Venci!” – disse. A humanidade está, enfim, a meus pés. Aqui Jerusalém, ali Atenas, além Alexandria, mais longe Roma... Por toda parte de opressão da força bruta, a orgia do sensualismo, o império da fabulo, o gosto do sangue, a degradação do homem, o desprezo de Deus.
“Que redenção pode sair deste patíbulo? Que vida pode irradiar-se daquele sepulcro?”
Assim falou, revoluteando com a rapidez de pensamento em torno do globo, como para percorrer seu domínio, perdeu-se na escuridão do espaço, soltando uma gargalhada convulsa.
Engana-se o enganador!
Não leu, não soube ler a Cruz; não pode decifrar aquele hieróglifo divino!
Que significava aquela Cruz ensangüentada no cume do calvário?
Significava que o grande sacrifício da nova aliança estava consumado. Que a humanidade tinha, enfim, uma vítima de valor infinito, que por ela se imolara, pregando naquela Cruz a cédula de sua condenação?
Vítima santa! Hóstia imaculada! Cordeiro de Deus que tira os pecados do mundo! Significava que aquela vítima divina, que era o verbo de Deus feito homem, era ao mesmo tempo o sacerdote eterno, segundo a ordem de Melquisedeque.
Dom Antônio de Macêdo Costa, 10º Bispo do Pará (1860-1890)
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