sábado, 6 de novembro de 2010

Um pouco da história do Missale Romanum

Por: Cassio Pessoa

Na metade do século IV, alguns historiadores afirmam a existência de alguns livros litúrgicos, já no final do mesmo século, Santo Ambrósio de Milão, compila das instruções para os recém batizados um livro intitulado, De Sacramentis na qual cita a parte central do Cânon, que é substancialmente idêntica com as respectivas orações do Cânon Romano tradicional, porém um pouco mais curto.
Com o passar dos anos surge a necessidade de um único livro litúrgico mais pleno e abrangente, foi então que no pontificado do Papa Inocêncio III se dá o surgimento deste livro que inicialmente foi usado pelos membros da cúria Romana. Foi compilado sob o nome de Missale Secundum Consuetudinem Romanae Curiae, e logo se espalhou vastamente para o triunfo final do Rito Romano.
De todos os livros litúrgicos o Missal Romano é um dos mais importantes, "um verdadeiro monumento da tradição multissecular católica, jóia literária de perfeita beleza, livro oficial da Esposa de Cristo no ato mais santo do culto”. (PE. REUS, 1944)

A primeira intenção do presente estudo era apenas a de oferecer uma explicação do atual Missal Romano, mas se estendeu em mostrar o surgimento e algumas das inúmeras mudanças que ocorreram no Missal com o passar dos tempos.

Na piedosa idade média foi adornado com ricas miniaturas e ornamentos em profusão e sempre de novo editado, enriquecido com devotas e artísticas ilustrações e vinhetas, foi impresso pela primeira vez em Milão em 1474. A primeira edição oficial data de 1570, a última típica de 1975 (para o Brasil - 1991).

O Missal promulgado pelo Papa São Pio V não é simplesmente um decreto pessoal de Soberania Pontifícia, mas um ato do Concílio de Trento, muito embora o Concílio tenha se encerrado em 4 de dezembro de 1563, antes da comissão ter completado sua tarefa. O material foi enviado ao Papa Pio IV, mas ele morreu antes que o trabalho fosse concluído, assim foi o seu sucessor, o Papa São Pio V, quem promulgou o Missal resultante do Concílio, com a Bula, Quo Primum Tempore, de 14 de Julho de 1570. Porque o Missal é um ato do Concílio de Trento, seus titulo oficial é Missale Romanum ex decreto sacrosancti Concilii Tridentini Restitutum – “O Missal Romano Restaurado de Acordo com os Decretos do Santo Concílio de Trento.” Esta foi a primeira vez em 1570 anos de história da Igreja que um concílio ou um papa tinham usado a legislação para especificar e impor um rito completo da Missa. Esse é o Missal que é usado hoje na Missa Tradicional do Rito Romano, comumente chamada de Tridentina. (DAVIES, 1997)
São Pio X fez uma revisão, não do texto da Missa mas da notação do Cantochão. O Gradual Vaticano de 1906 contem novas, ou melhor restauradas, formas dos cantos cantados pelo celebrante, e por essa razão a ser impresso no Missal.
Em 1955, o Papa Pio XII autorizou uma revisão de rubrica, sobre tudo relacionada com o calendário. Em 1951 ele restaurou a Vigília Pascal da manhã para a noite do Sábado Santo e em 16 de Novembro de 1955 aprovou o Decreto Maxima redemptionis reformando as cerimônias da Semana Santa.
Papa Beato João XXIII, também fez uma reforma de rubricas mais abrangentes que foi promulgada em 25 de julho de 1960 e entrou em vigor em 1º de Janeiro de 1961. Mais uma vez, estava relacionada principalmente com o calendário e foi incorporado no Missal publicado em 1962. A única mudança feita no Ordinário da Missa foi a abolição do Confiteor antes da Comunhão dos fiéis. Em nenhuma das reformas citadas foi feita qualquer mudança significativa no Ordinário da Missa.
A maior reforma e mais recente nos textos do Missal Romano, aconteceu após o Concílio Vaticano II, onde o Papa Paulo VI, através da Constituição Apostólica Missale Romanum de 3 de abril de 1969, que promulgou o atual Missal Romano (1º edição típica de 26 de março de 1970 - 2º edição típica de 27 de março de 1975).
No atual Missal Romano de 1991 (2º edição típica para o Brasil e aprovado pelo Papa João Paulo II) podemos encontrar:
Em seu início, o Missal apresenta uma longa e preciosa introdução contendo a Instrução Geral sobre o Missal Romano, as Normas Universais para o Ano Litúrgico e o Calendário litugico.
Proprium de tempore: Compreende as missas assinaladas para os domingos e férias maiores. Que vai do 1º domingo do advento até a Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do universo, concluindo assim a pedagogia litúrgica!
Ordinário da Missa: Partes fixas da missa celebrada com o povo.
Prefácios: O grande número de prefácios com que o Missal Romano foi enriquecido, tem por objetivo desenvolver de diversos modos o tema da ação de graças na Oração eucarística, e realçar os vários aspectos do mistério da salvação (I.G.M.R - 321)

Orações Eucarísticas: Contém as cinco principais orações eucarísticas, entre as quais estar o Cânon Romano e a oração eucarística V (I congresso eucarístico de Manaus - aprovada para o Brasil).
Benções para o fim da missa e orações sobre o povo: Contém as bênçãos que podem ser usadas,à vontade pelo sacerdote, no fim das Missas, da liturgia da palavra, da liturgia das Horas ou dos sacramentos.
Proprium sanctorum: As Missas contidas nesse próprio, podem ser celebradas como votivas, com exceção das Missas de mistérios da vida do Senhor e de Nossa Senhora e de alguns santos, o gral destas celebrações, i. é, solenidade, festa ou memória, estar indicado cada dia. Quando não há indicação trata-se de memórias facultativas.
Formulários comuns: Apresenta uma vasta e rica coleção de Missas votivas, p. ex. os comuns de Nossa Senhora, e por um ou vários mártires dentro ou fora do tempo pascal.
Missas rituais: Os textos litúrgicos são propostos para as celebrações dos: sacramentos da iniciação cristã, nas Missas das Ordenações, no viático, nas Missas pelos esposos, entre outras.
Missas e orações para diversas necessidades: Foram reunidas nesta parte as Missas e orações que podem ser usadas em várias circunstâncias, de acordo com as necessidades ou ocasiões, e contem missas e orações eucarísticas aprovadas especialmente para o Brasil.
Missa defunctorum: Contém as Missas exéquias para as varias necessidade.
Apêndice: Contém a Missa na vigília de pentecostes, rito para a benção e aspeção da água, exemplos para a oração dos fiéis, algumas orações para antes e depois da missa e três orações eucarísticas para a missa com crianças.
Para um melhor desenvolvimento da liturgia, nos é apresentado a instrução geral sobre o Missal romano e as rubricas – as partes escritas em vermelho – ou seja, as leis litúrgicas que regem os ritos e cerimônias da Santa Mãe Igreja que se desenvolveu de acordo com a necessidade de externar melhor o culto a Deus. As rubricas, mesmo impressas com tinta preta, conservaram o nome e a sua importância para o maior decoro da sagrada liturgia.


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As fontes principais para este artigo foram às seguintes obras:
REUS, João: Curso de liturgia. 1944
DAVIES, Michael: A Short History of the Roman Mass. 1997
Instruções gerais sobre o Missal Romano (IGMR). 1991

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