quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

O Grande Magistri Caeremoniarum Enrico Dante – Parte IV

Todos os amantes da Sagrada Liturgia da Igreja Católica, que buscam estudá-la de forma mais profunda se pega em certo momento apreciando fotos e vídeos, principalmente anteriores ao Concílio Vaticano II, e percebe nas cerimônias realizadas na Basílica Vaticana a presença imponente do Grande Magistri Caeremoniarum Enrico Dante, ao lado dos Sumos Pontífices desde o Papa Bento XV ao Papa Paulo VI.
De porte hierático, muito alto e magro, o Cerimoniário destacava-se, até mesmo ao lado do grande Papa Pio XII. Numa época em que o Santo Padre celebrava poucas vezes a complexa Missa Papal, o Grande Enrico Dante sabia coordenar impecavelmente o longuíssimo e elaborado ritual, no qual todos os integrantes da Corte Pontifícia tinham o seu exato papel: Cardeais Diáconos assistentes ao Trono (em dalmática e mitra ou de capa magna com a cauda dobrada ao braço, por estarem servindo em presença do Sumo Pontífice), camareiros eclesiásticos (em hábito paonazzo ministrantes da Tiara, da Mitra e da falda), diáconos e subdiáconos dos ritos latino e grego, príncipes assistentes ao sólio pontifício (Cátedra Papal), guarda nobre e camareiros de capa e espada (corresponde hoje aos comandantes da guarda Suíça que pertencem a família pontifícia).
Enrico Dante nasceu na cidade de Roma, em 05de julho de 1884, onde veio a falecer, no dia 24 de abril de 1967. Era filho de Achille Dante e de Zenaide Ingegni. Tinha apenas 8 anos quando ficou órfão de mãe, juntamente com mais duas irmãs e um irmão, que mais tarde veio como missionário para o Brasil.
Após fazer os estudos secundários com os Padres de Sion, em Paris, ingressou no Colégio Capranica, na cidade de Roma, em 1901. Doutorou-se em Filosofia, Teologia, Cânones e Direito Civil, na Pontifícia Universidade Gregoriana, passando a advogar na Sacra Rota Romana.
Enrico Dante foi ordenado sacerdote no dia 03 de julho de 1910, na Igreja de Santo Apolinário, em Roma, por Dom Giuseppe Ceppetelli, Patriarca Latino de Constantinopla. De 1911 a 1928, Enrico Dante lecionou Filosofia no Pontifício Ateneu Urbaniano “De Propaganda Fide”; de 1928 a 1947, passou a reger, também, a cadeira de Teologia. Em 1913, ingressou como oficial da Sagrada Penitenciária Apostólica.
Mons. Carlo Respighi, à esquerda do Venerável Papa Pio XII, durante a celebração do Consistório para a criação de novos cardeais, em fevereiro de 1946. À direita do Papa podemos vê Mons. Enrico Dante, que, em 1947, irá suceder como prefeito, o Mons. Respighi no gabinete de Cerimônias Pontifícias.
No dia 25 de março de 1914, Enrico Dante foi admitido como membro da Pontifícia Academia de Cerimônias. O Santo Padre Pio XI confiou-lhe a reabertura da Nunciatura Apostólica de Paris. Em 1923, pediu renuncia ao cargo por ter duas irmãs em Roma que necessitavam dele por serem órfãs. Continuou suas atividades na Cidade Eterna, sendo nomeado pelo Santo Padre Pio XI como suplente na Sagrada Congregação para os Ritos, e em 26 de outubro do mesmo ano, nomeado substituto da mesma Congregação no dia 28 de setembro de 1930.
Elevado à dignidade de Prelado Doméstico de Sua Santidade a 15 de maio de 1943, Enrico Dante foi feito sub-secretário da Sagrada Congregação para o Cerimônias do Sumo Pontífice em 27 de maio do mesmo ano. Em 13 de junho de 1947, foi elevado a Prefeito das Cerimônias Pontifícias. O ponto alto de sua atuação foi no Ano Santo de 1950, estando sempre ao lado do Papa Pacelli. Em reconhecimento à sua atuação e dedicação à Casa Pontifícia, João XXIII o fez pró-secretário da Sagrada Congregação dos Ritos, em 24 de janeiro de 1959, sendo elevado ao cargo de Secretário da referida Congregação no dia 5 de janeiro de 1960.
Exerceu o ministério pastoral, na Diocese de Roma, em Torre Nova e na Basílica Patriarcal do Latrão. Em Santa Maria em Monte, na Piazza del Popolo, foi decano do Cabido. Por mais de 40 anos, ouviu confissões na Igreja Sacro Cuore al Suffragio, em Roma. Ao mesmo tempo, encontrava oportunidade para práticas esportivas, sendo um atleta entusiasta, que ajudou a fundar a Associazione Sportiva Roma, além de praticar alpinismo.
Como Cerimoniário da Casa Pontifícia, participou dos Conclaves de 1914, 1922, 1939, 1958 e 1963, atuando nas cerimônias de coroação dos Papas Bento XV, Pio XI, Pio XII, João XXIII e Paulo VI. Enrico Dante foi o primeiro Mestre de Cerimônias papal a ajudar o Sumo Pontífice numa sagração de um bispo no Rito Bizantino, a do futuro cardeal Gabriel Acacius Coussa, OSBA.
Em 28 de agosto de 1962, foi eleito arcebispo titular de Carpasia, sendo sagrado a 21 de setembro seguinte, pelo Beato João XXIII, na Basílica Lateranense. Foram co-sagrantes: Dom Francesco Carpino, Arcebispo Titular de Sardica, Assessor da Sagrada Congregação Consistorial, e Dom Pietro Parente, Arcebispo Titular de Teolemaide di Tebaide, Assessor do Supremo Tribunal do Santo Ofício. Na mesma cerimônia, foram sagrados também, os futuros cardeais Cesare Zerba, Pietro Palazzini, e Paul-Pierre Philippe – OP.
 Mons. Enrico Dante atuando como Cerimoniário durante as sessões do Concílio Vaticano II 
Mons. Enrico Dante participou de todas as sessões do Concílio Vaticano II (1962-1965), inclusive fazendo parte de comissões. Entretanto, a partir da segunda sessão, tendo em vista a destruidora tempestade que se anunciava, tornou-se um determinado opositor daqueles que queriam simplesmente arrasar com toda a bimilenária história de fé da Igreja Católica, para construir algo novo sobre os escombros da antiga.
O Papa Paulo VI elevou-o a Cardeal Presbítero da Santa Igreja, no Consistório de 22 de fevereiro de 1965, com o título de Santa Ágata dos Godos, em Roma. A tristeza, porém, já era percebida no seu semblante, pois tudo o que amara ardorosamente por toda a sua vida estava prestes a ruir. O seu consistório foi, aliás, o último no qual o galero cardinalício foi entregue aos novos purpurados.
Com idade avançada, adoeceu gravemente, sendo internado na Policlínico Gemelli, onde recebeu a visita do Papa Paulo VI, no dia 6 de abril de 1967.
Faleceu confortado pelos Sacramentos daquela a quem dedicou toda a sua vida – a Santa Igreja, no dia 24 de abril de 1967. Após solenes exéquias, seu corpo foi enterrado na Igreja de Santa Ágata dos Godos, em uma simples gaveta mortuária na Cripta. E em sua memória foi erguido um monumento no mesmo templo.

Comenta-se nos dias atuais, sobre a possibilidade do Sumo Pontífice celebrar uma Missa Papal utilizando o antigo Ritual. Algumas dificuldades de ordem prática surgem, principalmente em razão da extinção de muitos cargos da antiga Corte Papal. Mas, como o que parecia impossível tornou-se possível, através do Motu Proprio Sumorum Pontificum, aos poucos a Santa Missa volta a ser celebrada no antigo rito de S. Pio V, principalmente em razão do interesse demonstrado por jovens sacerdotes e seminaristas, fascinados com a sacralidade e santidade do antigo rito, esperamos sim, com grande expectativa, pelo dia em que teremos a alegria de assistir ao inesquecível ritual de uma Missa Papal tradicional.

Leia também:
O Departamento das Celebrações do Sumo Pontífice – Parte I

O Mestre das Celebrações Litúrgicas do Sumo Pontífice – Parte II
O atual Mestre de Cerimônias do Sumo Pontífice, Mons. Guido Marini – Parte III
O Grande Magistri Caeremoniarum Enrico Dante – Parte IV
Os Cerimoniários Pontifícios e suas funções – 
Parte V
Os atuais Cerimoniários Pontifícios – 
Parte VI
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Elaboração: Cassio Pessoa
Revisão: Mário Ribeiro
Fotos: Internet e arquivo pessoal
Fontes da pesquisa: Scrípta mament e Wikipédia

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