domingo, 17 de abril de 2011
Dominica in Palmis de Passione Domini
Hosanna filio David:
benedictus qui venit in nomine Domini.
Rex Israel: Hosanna in excelsis.
Os sumos sacerdotes e os escribas ficaram indignados ao ver as maravilhas que Jesus fazia e as crianças que gritavam no templo: Hosana ao Filho de Davi! Interpelaram-no: Estás ouvindo o que dizem? – Sim, estou, respondeu Jesus. Nunca lestes nas Escrituras: Da boca dos pequeninos e das criancinhas preparaste um louvor? (Mt 21, 15-16).
Herodes, furioso, mandou matar todos os meninos de Belém e de todo o território vizinho, de dois anos para baixo, de acordo com o tempo indicado pelos magos. Assim se cumpriu o que foi dito pelo profeta Jeremias: Ouviu-se um grito em Ramá, choro e grande lamento: é Raquel que chora seus filhos e não quer ser consolada, pois não existem mais (Mt 2, 16-18).
O clamor das crianças é sempre original e atrai, pela pureza com que sobe ao Céu, a atenção da sociedade e o olhar de Deus. Do canto alegre – Hosana! – semelhante a uma revoada de pássaros até o grito de socorro que há poucos dias ressoou mundo afora, partindo do Rio de Janeiro, Deus quer que nossos ouvidos se abram para acolher as crianças. Ele é o Senhor da História e não abandona o mundo. Sua palavra de vida e de graça continua a ser oferecida à nossa geração, para que o Seu Reino chegue e todos os seres humanos alcancem a felicidade prometida.
Os pequeninos de Jesus dizem, teimosamente, ao nosso mundo que não se pode viver sem Deus. Eles proclamam Sua presença e Sua chegada. Ensinam-nos que a melhor oração é o louvor, a ação de graças, o elogio, a festa. Não é tempo desperdiçado viver o tempo como vivem as crianças, sem agitação, brincando diante da face de Deus. Sendo porção frágil e tantas vezes indefesa da sociedade, estão dizendo, com seus sofrimentos, ao nosso mundo adulto e teimoso que filho não é trabalho, mas bênção, que um mundo sem crianças é um triste mundo! (Cf. Sl 126, 3-5).
O Domingo de Ramos abre a Semana Santa e quer expressar a abertura de nossas casas e de nossas vidas a Jesus Cristo Salvador. Bendito o que vem em nome do Senhor! Acolher Cristo significa aceitar Sua Palavra e Sua salvação. Não existe outro nome pelo qual possamos ser salvos! E salvação é rumo para a existência, que deixa de ser beco sem saída. Aos que sofrem diante do mistério da dor ou da morte, Ele vem dizer que a dor pode se transformar em amor. Aos que estão tão mergulhados nas preocupações que, muitas vezes, se desesperam diante dos dramas do cotidiano, o Senhor diz que não é somente para esta vida que n'Ele depositamos a confiança. Há uma eternidade que nos espera, uma casa nova preparada hoje pelo nosso caminhar pelas ruas de nosso tempo.
Nós sairemos pelas ruas no Domingo de Ramos, recordando os acontecimentos de Jerusalém. Em nome de Jesus Cristo, somos todos convidados a sair de nós mesmos e entrar na casa das outras pessoas, levando a Boa Nova. Quem participa da Procissão de Ramos acolha a proposta de continuá-la, numa vista de Semana Santa ou de Páscoa, indo à casa de alguma pessoa ainda distante da Igreja ou de um parente do qual se afastou por qualquer motivo. Quem sabe será uma visita a um enfermo ou aos encarcerados. É para chegar desarmado, apenas para estar com as pessoas. Repetir-se-ão os benditos ao nome do Senhor quando as postas se abrirem!
À entrada de Jesus em Jerusalém, as crianças, os jovens e os adultos estendiam ramos de palmeira e também os próprios mantos pelas ruas, para acolhê-Lo. Ramos de palmeira, sinais de vitória, com os quais queremos dizer que Nosso Senhor é Rei e que n'Ele acreditamos. Roupa é sinal de valor e dignidade e queremos encontrar em Jesus Cristo a roupa do homem novo, pessoas renovadas no batismo, que estendem braços abertos para que passe a salvação.
Com a Jerusalém do Domingo de Ramos, nossas cidades querem dizer a Jesus que estamos conscientes de sermos contraditórios, pois nossos hosanas se transformam rapidamente em gritos de “crucifica-O”. Encantados com a beleza da vida, outros dias jogamos fora nossas crianças recém-nascidas ou transformamos o jardim de Deus, que é nosso mundo, em deserto árido e triste. Sabemos o que vale a união em torno das grandes causas e ainda assim nos defendemos no individualismo, cada um em busca dos próprios interesses. Senhor do lava-pés, da Paixão e da cruz, Senhor do silêncio do Sábado Santo, Senhor da manhã da Ressurreição, bem-vindo entre nós! Vence, Senhor, nossas contradições e endireita nossos caminhos! Ultrapassa, Senhor, nossas portas fechadas e traz-nos a Paz!
+ Alberto Taveira Corrêa
Arcebispo da Arquidiocese de Belém
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